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Toda uma Aldeia para cuidar de uma criança

  • Foto do escritor: Equipe de Comunicação Casa da Infância
    Equipe de Comunicação Casa da Infância
  • 17 de mai. de 2023
  • 3 min de leitura

Atualizado: 22 de jun. de 2023

Comunidade da Casa da Infância dialoga sobre estratégias de enfrentamento do racismo na construção da identidade das crianças




"Eu alisei o meu cabelo pra ser aceita como ser humano". Essa foi uma das falas, ditas pela pedagoga e educadora, Tainã Souza, durante o Aldeia, encontro comunitário da Casa da Infância, no dia 25 de abril. Essa foi a primeira edição deste ano e teve como tema as "Estratégias de enfrentamento do Racismo na Construção da Identidade das Crianças". A mediação ficou por conta da educadora da Casa, Izabela Dórea.


Tainã disse que, enquanto criança, as suas professoras não agiam de forma adequada para tratar o racismo que ela sofria na escola. “Falar dessas coisas doem. Precisamos saber como tratar sobre racismo com as crianças, ajudá-las na subjetividade, como elas se enxergam e enxergam o outro, atentar para a interseccionalidade que envolve o racismo”, disse a educadora, que atribui essa “violência complexa” à falta de debate coletivo e adesão consciente à luta antirracista.





Esse desafio colocado por Tainã foi justamente a proposta do Aldeia: acionar uma alternativa de diálogo e empoderamento comunitário para enfrentar a violência racial, nas suas diversas dimensões, na vida das crianças.


“Acreditamos que nossas vidas estão entrelaçadas e que a nossa ação repercute no outro e no mundo. Assim, entendemos a escola como um lugar de aprendizagens necessárias a nos fazer capazes de enxergar os novos desafios do mundo e sentir-nos parte da mudança e da busca por soluções”, explica a psicóloga Leticia Chaves, uma das idealizadoras do Aldeia juntamente com a também psicóloga Larissa Silveira e a pedagoga Marília Dourado, fundadora da Escola Casa da Infância. O Aldeia vem sendo realizado desde 2017, envolvendo temas cruciais da contingência social e apostando no valor da coletividade.





Entender o passado, construir o presente, projetar o futuro


Joilda Nery, mãe da Casa da Infância, vice-diretora do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (Ufba) e uma das convidadas para liderar o encontro, falou que há muitos desafios que permeiam a educação de uma criança negra numa sociedade estabelecida a partir do racismo estrutural.


Ela relatou que dialoga permanentemente com sua filha, Jade, sobre questões de identidade racial. As estratégias que ela encontrou foi na educação antirracista. Ela aposta nesse caminho como forma de empoderar a criança negra diante da violência racial e aponta para a necessidade de as escolas diferenciarem práticas de racismo do bullying.





No centro da roda de conversa, Joilda Nery expôs diversos livros voltados à pauta racial. De acordo com ela, através dessa literatura com afrorreferências, é possível confrontar as histórias que nos foram contadas, geralmente baseadas em perspectivas unicamente eurocêntricas, com a história da diáspora africana sob a perspectiva afrocentrada. “Esse caminho -, afirma Nery - é fundamental para compreendermos as razões das desigualdades do Brasil”.




“É preciso ampliar esse debate, incluir, não somente pessoas pretas e pardas, mas também pessoas brancas. Para mim, é importante entender o passado, para construir o presente e projetar o futuro", destacou, conduzindo sua fala ao mesmo sentido do conceito originado do provérbio tradicional entre os povos de língua Akan da África Ocidental, “Sankofa” e que se tornou símbolo de resistência na diáspora africana.


Sanfoka se refere tanto a um eu individual como a um eu coletivo que precisam retornar ao passado para que seja possível adquirir conhecimento e sabedoria. O presente e o futuro, de acordo com essa perspectiva, dependem inteiramente desse “retorno”.


É ainda nesse sentido de compreender o passado para construir o presente e o futuro que a pedagoga Tainã Souza destaca a necessidade de também sabermos cada vez mais, além da história dos povos de África - que vieram para cá sequestrados pelo tráfico humano -, a história dos povos originários e compreendermos o que é a branquitude. Isso, “sem esquecer os fatores da interseccionalidade entre gênero, raça e classe na constituição das nossas identidades”, pontua.


Ela ainda adverte que, diante de tudo isso, “devemos observar as crianças a partir da singularidade de cada uma”.


Na abordagem de um assunto tão "pesado para o universo infantil", Tainã Souza diz que sua conduta preza por uma abordagem de muito cuidado para que as crianças não entrem numa relação de culpa. “É importante trabalhar com representações, com biografias e questionar esses lugares. Arte e cultura é lugar de cura”, defende.



 
 
 

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"É na escuta que o amor começa. E é na não escuta que ele termina. Não aprendi isso nos livros. Aprendi prestando atenção".
Rubem Alves

Escola Casa da Infância

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